Os segredos que Palocci vai revelar Parte 2
DELAÇÃO
O novo advogado de Palocci, Adriano Bretas, iniciou conversas
com o MPF para fechar o acordo de colaboração premiada
(Crédito:Marcelo Camargo/Agência Brasil)
No início das negociações para a delação, o ex-ministro se propôs a
fornecer informações detalhadas sobre os R$ 128 milhões da Odebrecht que teriam
passado por ele. Embora tenha chamado a atenção, procuradores acharam pouco.
Sustentaram que o que já foi reunido a esse respeito seria o suficiente para a
elucidação dos fatos. E que as revelações não seriam tão bombásticas assim.
Diante do impasse, foi deflagrada uma nova rodada de negociação, que culminou
com a renúncia de José Roberto Batochio de sua equipe jurídica. Depois de
procurar ao menos três escritórios de advocacia pouco antes da Páscoa, Palocci
acertou com uma dupla de criminalistas já ambientada ao mundo daqueles que
resolvem colaborar com a Justiça em troca de reduções das penas. Além de
Bretas, foi contratado também o advogado Tracy Reinaldet dos Santos.
Após a primeira etapa de conversas com o novo time de defensores, ficou
definido que Palocci vai começar a abrir sua caixa de Pandora pelo escândalo da
Sete Brasil, uma empresa criada em 2010 para construir as sondas (navios de
exploração de petróleo) para a Petrobras. Além do capital da estatal, a Sete
tinha dinheiro de bancos, como o BTG e de três fundos de estatais (Petros,
Previ e Funcef). As seis primeiras sondas da empresa foram construídas pelo
estaleiro Enseada Paraguaçu (com capital da Odebrecht, OAS e UTC). Cada sonda
ao custo de US$ 800 milhões. As seis, portanto, estavam orçadas em US$ 4,8
bilhões (ou R$ 15,3 bilhões), embora a Sete Brasil estimasse um investimento de
US$ 25 bilhões para construir 29 sondas até 2020. Na delação, Palocci pretende
contar que o PT exigiu que a Sete Brasil e as empreiteiras do estaleiro Enseada
Paraguaçu pagassem propinas de 1% do contrato de US$ 4,8 bilhões, ou seja, US$
48 milhões (R$ 153 milhões). Desse total, dois terços, ou R$ 102 milhões,
ficariam para o partido e um terço (R$ 51 milhões) para diretores da Petrobras.
Sem medo de ser feliz, Palocci vai entregar que Lula exigiu metade das
propinas. Não para o partido, nem para a companheirada, mas para ele, Lula.
“Sapo barbudo”
O depoimento de Rogério Araujo , ex-executivo da Odebrecht que acabou de
celebrar um acordo com a Procuradoria-Geral da República, fornece o caminho das
pedras sobre a tentativa do PT de embolsar ilegalmente R$ 153 milhões desviados
da Sete Brasil. Araujo disse que o PT exigiu que 1% do contrato das sondas da
Sete Brasil, assinado em 2012, fosse fixado como propina. O valor havia sido
pedido pelo “sapo barbudo”, numa referência a Lula. “O Pedro Barusco
(ex-gerente da Petrobras e dirigente da Sete Brasil), voltou para mim e falou:
‘Olha, esse 1%… vocês vão ser procurados por um interlocutor do PT, o sapo
barbudo deu instrução. Ele me disse que 1% vai ser todo pago para o PT, porque
não querem empresas estrangeiras pagando esses dois terços para o PT. Eles têm
confiança na Odebrecht”, relatou Araújo na sua delação. A conversa de Araújo
com Barusco aconteceu em 2012, depois da assinatura do contrato com o consórcio
formado pela Odebrecht, OAS e UTC, além da japonesa Kawasaki. “A conversa foi
no Rio. Normalmente eu almoçava com o Pedro Barusco. Só eu e ele”, asseverou
Araújo, explicando que as seis sondas da Sete Brasil para a Petrobras custariam
US$ 4,8 bilhões. Barusco disse, então, a Araújo que estava acertado que 1% das
seis sondas era na proporção de um terço para a “casa” (dirigentes da
Petrobras) e dois terços para o PT (R$ 102 milhões). Quem receberia essa
propina seria o então tesoureiro João Vaccari, preso em Curitiba. É aí que
Palocci entra em cena. O superior de Rogério Araújo, o executivo Marcio Farias
disse que o ex-ministro Palocci havia lhe pedido uma reconsideração na propina
da Sete Brasil. Ou seja, que os 100% de 1% fossem destinados para o PT, pois
Lula entrou no negócio e estava pleiteando a metade do valor.
Como a operação precisava do aval do topo da hierarquia do esquema,
Marcelo Odebrecht foi acionado. Ele, então, mandou chamar Palocci e disse que
as comissões da Sete Brasil destinadas ao PT já estavam incluídas na conta
corrente do partido no Setor de Operações Estruturadas, o “departamento de
propina” da empresa, entre as quais a “Italiano” (Palocci), o “Pós-Itália”
(Mantega) e o “Amigo” (Lula). Essa conta, que Palocci atestará que é mesmo
dele, chegou a somar R$ 200 milhões em 2012. Se sua delação for aceita pelos
procuradores, Palocci irá confirmar não só o encontro com Marcelo como os
valores da propina repassada para Lula, dinheiro este derivado da Sete Brasil e
que já estava contemplado na planilha da empreiteira – perfazendo um total de
R$ 51 milhões.
Aldeni Soares
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